sábado, 17 de julho de 2010

Um segredo ardente

Há muitos ainda nas casas dos nossos pais. A maioria comprados pelas nossas mães. Os livros de Stefan Zweig´fizeram a sua época nos anos quarenta. A Editora Civilização traduziu-o quase todos. Austríaco saíu da Europa a caminho do exílio no Brasil. Morreu de tristeza e de pena pela sua Pátria ocupada pelo nazismo, suicidando-se com sua mulher no Brasil terra de futuro. A simpatia com que saudou esse País de acolhimento moveu contra ele as forças políticas que se opunham à ditadura então reinante. 
O modo como escrevia passou de moda. Escrita simples, fluente, apetecível leitura, a incidir sobre os meandros psicológicos das personagens, com compaixão e elegância mesmo quando sobre a sordidez. Conhecedor da alma humana, o autor de Amok trouxe-nos biografias que são de pessoas na pujança plena dos seus seres. Não mais me esquecerei do que escreveu sobre Nietzsche.
Acabei de ler esta noite Um segredo ardente.
É uma história de uma predação, o predador a seduzir o filho miúdo, corrompendo-o com a amizade, para alcançar a cedência da mãe. No final o amor triunfa sobre a luxúria, sofrido por entre mentiras, duplicidades, fidelidades traídas, carências.
Casada, Matilde - uma burguesa cujo nome uma só vez aflora na narrativa - vai cedendo ao insidioso barão austríaco. Ele «conhecia perfeitamene a sua incompatibilidade com a solidão. Não era pessoa com disposição para ficar só em frente de si próprio, e evitava, quando podia, esses encontros, porque não queria tomar conhecimento íntimo da sua pessoa». Ela «uma passional sem dúvida, mas bastante esperta para dissimular o seu temperamento através de uma melancolia cheia de distinção». Entre «um turbilhão de felicidade e de um infantil desespero» Edgar encontra nele o pai que falta e na mãe a mulher que descobre gostaria de ter.
A «ousadia do assalto» desenvolve-se neste ambiente. A renúncia aos desejos faz-se com lágrimas, magoada escolha «entre ser mãe ou ser mulher».