
domingo, 16 de agosto de 2009
Borges, de Jason Wilson

Foi por isso um bem ter nas mãos a pequena biografia que Jason Wilson escreveu em 2006 e a editora Fio da Palavra Editores traduziu este ano. Por ser um livro inteligente.
Vou a meio e aprendi que, esgotado por pulsões inconsequentes, sempre apaixonado e desgraçado em amores, este homem soube ser uma realidade permanente independentemente da sua provisória pessoa. Viveu a vida através da literatura, antes de ser cego. Aconteceram-lhe muitas coisas, porque leu.
A sua vida exterior é monótona, as entrevistas repetitivas, não há biografia possível da aparência. Há a obra.
Uma vez, na rua, perguntaram-lhe se era Jorge Luís Borges. Irreverente, respondeu: «Às vezes». Naturalmente.
Há um passo do livro que me fez parar e pensar e vir escrever já aqui. «Cada momento que vivemos extingue todo o passado, ao mover-se para o futuro». Eis porque o budismo sabe que o passado é incerto. Verdadeiramente «Deus ainda não criou o mundo», escreveu na narrativa Os Teólogos, para o livro El Aleph. Saber isto é descobrir a existência, depois de termos julgado existir.