sábado, 27 de agosto de 2005
O jardim das delícias
Passeava madame sua nervosa cadelinha, em aprazível jardim nocturno, não sem que de súbito surgisse, vindo das sombras sinistras de um arbusto, ávido canzarrão. Atiçados pelo instinto, dir-se-ia, no que isso é possível em cão, caíram nos braços um do outro. Cena a princípio ternurenta, o frenezim rápido deu em equívoco, num instante em embaraço. Num volteio de snifadelas mútuas, dir-se-ia que, indiferentes ao mundo, ali mesmo se enroscariam em amplexo obsceno. Munida do único meio pelo qual garantiria a moral canídea e protegeria a decência humana, madame, ruborizada retesava a trela, aos sacões. Num espamo final de fúria mal contida, cadelinha e cão ensarilhados na correia, arrastados enfim jardim fora, entre risos trocistas dos passeantes e a cólera disciplinadora da senhora. Amanhã, estou certo, passeará madame, inocente gato, arisco miau.