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domingo, 1 de novembro de 2009
António Alçada Baptista
Acho que o jornal acabou. Publicava-se em Cascais. Era gratuito e eu tinha lá uma crónica sobre o que me apetecesse, que é a melhor expressão que há para a liberdade de imprensa. Chamei-lhe O Jardim dos Passarinhos em homenagem a um lugar próximo. Aqui fica a última que ali se editou. Será que agora estou sem lugar onde escrever, porque nas paredes é proibido?
«O António Alçada Baptista era advogado. Fartou-se, pois isto é profissão que dá para uma pessoa se fartar vivendo diariamente os problemas dos outros e a fazer disso modo de vida. Segundo confessou num dos seus apontamentos de memórias foi um maldito processo de inventário, em que sentiu que um dos contendores queria fazer dele um porrete tentando assim, através do tribunal, agredir um cunhado, que o trouxe para a Literatura. Bom homem, tornou-se militante das letras, fazendo-se editor através da Moraes. Militante católico, inspirado pelo personalismo cristão, um dos que João Bénard da Costa chamou «os vencidos do catolicismo», criou a revista O Tempo e o Modo e a Concilium. Derreteu em tudo isso o dinheiro que havia. Sofreu a preocupação das dívidas. Escritor, acabou por ser adoptado pela Presença. O seu amigo Francisco Espadinha compôs-lhe um livro de homenagem há dois anos. São coisas que se fazem quando se torna evidente que uma pessoa não é imortal. Publicara-lhe o primeiro livro em 1985. Falando do seu delicado ser Leonor Xavier sublinhou dele o «entendimento não contábil com o mundo em que vivemos, a descrença no trabalho como valor absoluto». Invulgar observação, esta, notável espírito. António Alçada Baptista tinha uma escrita amável, mesmo quando angustiada, até quando falava com Deus. Um neto escreveu um dia numa redacção a propósito da família, tomando dele a parte de escritor e do pai o trabalhar numa editora: «A Família. O meu avô é escritor e o meu pai emenda os enros». Tal qual assim, com enros. Lembrei-me disso esta manhã. Não são os que se dizem escritores que afinal o são. São aqueles que têm uma história para contar, mesmo quando na fase da «preguiça ostensiva». Os leitores esperam, pacientes. São pequenos enros da vida estes gloriosos momentos. Sem eles estava tudo completamente errado».
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