domingo, 12 de abril de 2020

Un Uomo Finito

Terminei-o, fim em dia de Páscoa, e que sentido faz esta coincidência, tudo visto, ante o epílogo desta escrita torrencial, o que dá título ao livro, o clímax de uma epopeia em busca do Absoluto, viagem e salto, afogamento e salvação, a história de um Homem que, anunciando-se morto, nega a possibilidade e proclama ao Destino e a todos os outros que não está acabado, agora que começa.
Livro magnífico, livro que tomaria comigo se tivesse de escolher muito poucos para levar e não mais, livro que me recorda tanto de Friedrich Nietzsche, outro desgraçado, o do super-Homem e do Humano demasiado Humano, mais o da Gaia Ciência, mas tudo num livro só, cozinhado em sofrimento, escrito sem perder nunca o fôlego, confissão de revolta e de amor, desprezo e despojamento, sobretudo, obra de intrínseca e humilde verdade, jogando-se nu até nos seus defeitos rascas e na vanglória do seu excesso de virtudes.
Li-o todo, linha a linha, depois de o ter lido, sem ter lido, em tempos. 
Quanto nos irmanamos nele, em quanto vemos quão reles e liliputiana é a vidinha de que curamos e à qual hipotecamos o mais precioso de todos os bens, o inegociável Tempo, o pouquíssimo tempo que nos é dado. 
Quanto nos torna diminutos ante aquele combate demoníaco e salvífico com todos os deuses, pela Razão e pela irracionalidade que a nega, com a Humanidade e ao arrepio dela.
É de norma que se escreva e cite do que se escreveu para provar o que se afirma ou se mobilize o leitor. Impossível é fazê-lo aqui: uma só palavra citada, destruiria a magia de todo o conjunto, reduziria a grandeza do escrito, anularia o sentimento do lido.
Dir-se que neste período de clausura se devem ler superficialidades reconfortantes. Nego, repudio, combato! Siga-se o exemplo dos grandes solitários, as almas que no deserto do confinamento buscaram as suas entranhas e escrutinaram os círculos do Céu: há que procurar mais alto, escavar mais fundo.
No mundo das coisas práticas em que nos tornámos pelas circunstâncias actuais, parece que tudo afinal encontrou o caminho do trivial para enfrentar a seriedade. Enquanto isso suceder o Homem prossegue o Reino da Quantidade, tendo passado, pelas dificuldades, apenas do muito ao muito pouco. 
Talvez não exista a alma, há, porém, o espírito, o de cada pessoa e o Espírito Cósmico, do qual somos centelha provisória jogados no infinito ao sabor da lei da gravitação universal. Ao ler Giovanni Papini senti a esperança depois de ter chegado à agonia do desespero, o sentido pascal, afinal, do renascer.