sábado, 17 de setembro de 2005
O homem que não sabia escrever
É amiga, é leitora, escreve. E contou-me, nos intervalos dos nossos silêncios que eu, embirrento, por vezes prolongo, que a mãe, quando o pai se ausentava para o estrangeiro, sabendo que ele não escreveria, lhe metia na mala rimas de postais, onde já rabiscara «beijinhos para as três» [elas eram três], pedindo-lhe apenas que os fosse entregando nas recepções dos hóteis, para, ao menos, em casa saberem que ele estava bem. Eterneci-me ao ler, muito, como se, hesitante e envergonhado, postal na mão, tivesse pela frente na vida a recepção de um hotel.