quinta-feira, 1 de setembro de 2005
O remanescente
E, no entanto, a ideia de que toda aquela literatura pudesse ser auto-biográfica, como se descrevesse, afinal, incessantemente, sob várias formas, a mesma vida e remoesse as mesmas obsessões, perseguia-o. Talvez, por isso, a incapacidade de escrever, como se não houvesse um qualquer futuro para viver e já não houvesse modo de contar, uma vez mais, o mesmo passado. Hoje, remanescente naquele local de veraneio, o vento por companhia, tinha diante de si, povoando-o, a angústia do papel em branco: a amnésia do mundo de ontem era a sua doença. Todos os anúncios de jornal pareciam dizer-lhe respeito.