quarta-feira, 7 de setembro de 2005
Papel em branco
Nos tempos em que eu ainda andava nas primeiras letras havia uns cadernos com duas linhas, dentro das quais nós, crianças desprevenidas, destinadas à ordem e treinadas para a arrumação, tentávamos encaixar a nossa hesitante caligrafia e através dela as palavras que pouco tinham para dizer. Depois, com a juventude, veio a tristeza em papel branco, as palavras em verso e a caligrafia descuidada. Muitos passaram-se no estado adulto para o papel quadriculado, o do mundo das contas dentro do universo dos números. Alguns outros tiveram a sorte do papel impresso, e são escrevinhadores ácidos a corpo onze e a cinco colunas, poucos de todos exprimem-se desbragadamente em livro. Tivessemos consciência de nós e escreveríamos a papel vegetal, copiando o que os outros escreveram. Não damos conta, mas somos a geração que não tem nada já para dizer!