domingo, 16 de outubro de 2005
A invisível presença
Há neste desvão de escada o que eu preciso para ter a ilusão de que, aninhado aqui, ninguém mais dá pela minha presença. Na minha infância, porque já houve em mim uma infância e vivida nesta mesma casa, sonhava-me aqui como se no lugar mágico da minha invisibilidade. Rodopiavam os mais crescidos, indiferentes à minha ausência, e até o arrastar penoso dos avós parecia mais preocupado com o para onde iam do que com o onde eu estaria. Há neste desvão o ter aprendido o que é, na vida, o não fazermos falta. Hoje, no jogo de acasos que é o viver-se, trocaram-se as peças no tabuleiro: este é o desvão onde se escondem todos eles, os idos e os que foram, e eu já nem dou sequer pela sua invisível presença.