quarta-feira, 19 de abril de 2006

O dever primordial de nós todos

Quando o empresário Manuel Vinhas se ausentou para o fraternal Brasil, por causa da perseguição política que aqui lhe moveram, publicou um livro a que chamou «Profissão: Exilado». Um homem teve a ombridade de, em preito de gratidão, inscrever corajosamente o seu nome nesse livro de memórias amargas: Agostinho da Silva que, num notável texto de apresentação, exprimia, com ironia, o seu contentamento pelo seu amigo ter, à força, sido obrigado a largar os negócios, podendo, enfim, dedicar-se à escrita. Escrito no Natal de 1975, dizia o filósofo da portugalidade, a propósito do empresário das cervejas: «os negócios o afastavam de si próprio, relegando quase para tempo nenhum o seu gosto de escrever, de estudar e de marchar, e decerto obrigando-o a frequentar muito lugar e muita gente que lhe não respondiam ao mais profundo; foi empresário, proprietário, administrador, negociador de acordos, e não sei que mais; faltava-lhe cumprir o dever primordial de nós todos: sermos o que somos».