quinta-feira, 29 de maio de 2008

Só se vive duas vezes

A indústria editorial adora espólios de mortos, sobretudo consagrados. Ei-los que surgem, os «dispersos» de Alexandre O'Neill, de quem parecia tudo publicado, mas ainda faltava um molho, encontrado entre os restos, textos embrulhados em 1981, de que tinham saído já 43 numa editora e mais 13 em outra, mas agora vem tudo junto sob o título «Já cá não está quem falou».
Lembrei-me ontem disso, pela noite dentro, por causa de um livro, escrito por um tal Sebastian Faulks, chamado «Devil May Care», que é uma aventura do James Bond, que regressa «com uma vingança», anuncia o editor.
A obra foi lançada ontem, com pompa e erotismo com uma «vamp» boleada e a imagem da Marinha britânica a fazer o «decor», perdido o Império e reduzidos, ridículos, os súbditos de Sua Majestade, a soldadinhos de chumbo.
Coitado do Bond que não morreu quando em 1964 morreu o seu criador. É que agora, diz a capa, o dito Faulks «escreve como Ian Fleming».
Nem quero imaginar o que seja esta semelhança necrológico-literária! Já chegavam todos os que continuaram Bond sem Fleming: Amis, Gardner e Benson, mais os «Young Bonds». Agora temos este Faulks. Volta Ernst Blofeld, estás perdoado!