sábado, 10 de janeiro de 2009
A porcelana
Li umas folhas mais do Finisterra, só umas folhas porque o Carlos de Oliveira tem de ser lido assim, goticularmente.
É uma escrita despovoada, vivida em torno do vento, da areia, da mais esquisita botânica, uma escrita das ocorrências subtis, desconsideradas pelos atletas dos sentimentos, os maratonistas das sensações.
Detive-me ante a exaustão das gisandras depois do seu nocturno clímax floral, parei ante a voz da mãe que modela as palavras em tonalidades independentes de acentuação e «se a palavra tem só uma sílaba, a voz sobrepõe-na ao começo da palavra seguinte».
Isto sim, é escrever sobre a miniatura e a fragilidade, a quebradiça porcelana que os chineses inventaram e os alquimistas descobriram, etérea, perto da névoa.