sábado, 21 de março de 2009
Um príncipe em casa
Devo ao Bettencourt da Câmara * a revelação: a primeira edição portuguesa da obra O Príncipe de Maquiavel só ocorreu - espanto - em 1935, através da Atlântida, de Coimbra, ornada «com um artigo de Mussolini a servir de introdução». Referi-o na apresentação que escrevi para uma edição que a Presença publicou o ano passado da mesma obra, em nova tradução. Seria em 1945 que Manuel Mendes e Berta Mendes trariam para a Cosmos um Maquiavel, agora já não pré-fascista, mas sim democrata e amigo do povo. Vicissitudes da vida e obra de uma desgraçada criatura de que estudei o teatro e a poesia.
Encontrei-a hoje, na Rua Anchieta, aquela comprometedora edição. Trouxe-a para aqui, contente por estar agora à mão. Até aqui tinha lido por amabilidade de empréstimo, que é uma forma tímida de se ler. Agora verei como é tê-lo comigo.
* Câmara, João Bettencourt da, A Primeira Edição d’ O Príncipe ou o Maquiavel Fascista de Francisco Morais, em Res-Publica, Revista Lusófona de Ciência Política e Relações Internacionais, 2005, 1, 5-6