Chega hoje o livro. É lindo. Edição da Guimarães. Todos os livros da Guimarães agora são bonitos, de uma beleza patrícia.
Olho para a capa! Susto! Afinal são dois romances que já tenho! Ana Paula, publicado em 1938, que ele começara a escrever em Janeiro do ano anterior, e Ansiedade, editado em 1940.
Será que fazem parte de algum conjunto que na origem assim se chamava?
Vou trepar ao escadote para ir verificar na estante. Os livros de Paço d' Arcos, de seu nome real Joaquim Belford Corrêa da Silva, Paço d'Arcos é o designativo nobiliárquico, estão junto ao céu. Um momento.
Voltei. Pois nada. Ana Paula, dedicado a sua mulher, ostenta como subtítulo Perfil duma Lisboeta. Só isso.
Pronto. Mas não desisto. Fui ao estudo de Álvaro Dória sobre a vida do escritor e leio que com a peça teatral O Cúmplice o escritor inaugurou um novo género «em que também se consagraria. O Cúmplice, para onde transitaram algumas das personagens da Ana Paula, agora postas a agir no palco vivo, e daqui, por sua vez, para a "Crónica da Vida Lisboeta" outras que nesta farão carreira, foi à cena no Teatro Avenida na Primavera de 1940».
Vá lá, uma pista. Mas foi finalmente aqui que se encontrou a chave do enigma. «Crónica da Vida Lisboeta» foi o subtítulo de uma série de livros da sua autoria.
Enfim, fico com os livros todos. Olho neste momento com nostalgia para os que tinha. O Ana Paula está encadernado a pano. Juraria que era de uma tipografia colonial, de uma Missão Católica. Na canto superior da lombada está, discreto, o nome do autor, no inferior o nome daquela a quem pertenceu: Alda Corte-Real. Quem será? E o que leu nesta história? E em que recanto do mundo se envolveu nestas páginas? Quanto ao meu Ansiedade, esse tem uma dedicatória de difícil legibilidade mas em que consigo decifrar «para a viagem da ... 20/10/44». Quem seria? Que viagem foi? Ah! Como será bom viajar! Nem que seja literariamente.