segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Odisseia, traduzida por T. E. Lawrence


Às vezes fica a ideia de que a leitura é o privilégio dos ociosos, o entretém dos desocupados, um luxo para os que podem. Quando uma pessoa se esfalfa um dia a trabalhar, mesmo que o seu trabalho seja ler, há o balanço do fim do dia. Os olhos estão cansados mas a alma anseia. Claro que intervalamos para alimentar o corpo, ainda que seja uma sopa; naturalmente que animamos o cérebro, nem que seja com comprimidos ou álcool ou cigarros. Quanto ao espírito esse definha, esfomeado.Às vezes fica a ideia de que a leitura é um além que castiga os Sísifos deste mundo, rolando calhaus de deveres por escarpas de obrigações, as mãos esfoladas, a multidão insatisfeita, o cume inatingível, o sopé certo da constante montanha.Talvez ainda leia qualquer coisa antes de ir para a cama, pensa ele, nem que seja o prazo de validade de algum iogurte que sobeje.
T. E. Lawrence, mais conhecido como Lawrence da Arábia, traduziu a Odisseia de Homero no tempo livre enquanto oficial da Royal Air Force. Assim o revelou Sir Maurice Bowra no prefácio à edição de bolso, em oitavo, editada pela Oxford University Press que, há uns anos, trouxe de uma estadia em Inglaterra. Tinha terminado Os Sete Pilares da Sabedoria.Estava esgotado. Mas era «um inexorável homem das letras». É assim que eles se conhecem, inexoravelmente.