sábado, 24 de outubro de 2009

Martin Heidegger, por Emmanuel Faye


Quando a Segunda Guerra terminou os aliados passaram certificados de «desnazificação». Passou a haver os bons e os maus nazis. Alguns nazis úteis passaram a ser bons alemães. Depois houve a vista grossa em relação a muitos activistas e colaboracionistas, porque eram intelectuais de renome, mestres-cantores na Kultur ou pessoas sedutoras na Arte. Na música, no cinema, nas letras, os exemplos abundam. De quando em vez há um que tem de entrar em explicações ante o tribunal da opinião pública.
Lembro isto por causa de um notável artigo que se pode ler aqui sobre o filósofo Heidegger, hoje laureado e com honras de acolhimento nos respeitáveis meios culturais e académicos, mas outora um proeminente adepto das doutrinas expansionistas e racistas do III Reich. Trata-se da recensão à tradução inglesa do livro de Emmanuel Faye, Heidegger: The Introduction of Nazism Into Philosophy, a publicar em breve pela Yale University Press [sobre a versão original e sobre o autor em geral, consulte-se aqui].
A linha geral do livro, que o artigo ressalta, é que um autor que coloca as suas ideias ao serviço do nazismo não pode ser considerado um filósofo. A tese é discutível e a ser verdadeira mina os fundamentos filosóficos de todos os que alinharam filosoficamente pelos totalitarismos. Poder-se-á sim pensar que não é filosofia mas ideologia todo o pensamento que visa a legitimação de uma política. A ser assim, estaríamos entre propagandistas refinados, construindo como se sistema fosse, aquilo que seria uma prática agressiva, como se de razão se tratasse, a expressão violenta do irracional. Engenheiros de almas, moldariam a política do espírito, gerando a submissão da mente ao triunfo da vontade.
Nisso, as ideias de Matin Heidegger, os filmes de Lenni Riefensthal e  a música de Herbert von Karajan, são uma e a mesma realidade: para além dos nazis que, como bodes, expiaram em Nuremberg, só são hoje nazis os pequenos alemães que se não conseguiram empregar na indústria cultural subsequente aos Acordos de Potsdam.
Na cultura, há sempre uma forma de uma pessoa se justificar: é a teoria da cebola e suas cascas. Also Spracht SS-Mann Günter Grass.