sábado, 16 de janeiro de 2010

Salvo excepções, as "livrarias"


Houve tempos em que as livrarias eram uma certa e específica realidade. Procurava-se pelo Alexandre Herculano e havia ainda O Bobo ou O Monge de Cister. Tentava-ae o Nemésio e lá estaria pelo menos o Mau Tempo no Canal. Encontrava-se o Húmus do Raúl Brandão, o Domingo à Tarde do Fernando Namora. Isto para além das novidades que mesmo quando vendiam pouco iam ficando.
As livrarias eram lugares de convívio entre obras em vai-vém porque os livros encontravam muitos compradores, identificados pela voz do livreiro «não temos de momento mas estamos a receber ainda esta semana», e aqueles que esperavam encontrar esperançadamente um futuro comprador e foi assim, com esses livros expectantes, que fui compondo a minha tantas vezes reiniciada biblioteca.
Hoje não há isso. É tudo um carrossel de livros em rotação. Chegam, mal aquecem o lugar e são devolvidos se não se vendem em pouco tempo. O leitor que perdeu a novidade já não o encontra. É remetido para a editora, algumas vezes com um «nem sei se existe, ah sim está aqui no computador, tenho ideia sim...».
Muitas das actuais "livrarias" são, como no imobiliário e na hotelaria, um negócio de venda de espaço. As assoalhadas com melhor vista são mais caras. Editor que queira livro na montra paga. Para o livro estar não na horizontal repousante do escaparate mas sim na erecção que o torna mais visível, paga-se; de outro modo se o editor entra na lógica do «não pagamos» vai para a estante e aí se a lombada não for visível com letras garrafais e contraste de cor o livro perde-se de vista.
Alguns livreiros que são homens de cultura ainda têm consideração pelos leitores que procuram o passado e pelas edições antigas que procuram o presente. A regra é a rotação de stocks, a gestão do cash-flow. A cultura está dominada por auto-proclamados socialistas que gerem capitalisticamente o seu negócio.
Os livros hoje são iguais aos produtos do supermercado. Chegam em carrinhas e saem em carretas. Funerárias claro. Os contratos de edição prevêm que se não foram vendidos são guilhotinados. Tal e qual.