quarta-feira, 7 de setembro de 2011
Talvez ao fim dos meus dias
Lembrei-me do "Às Sete no Sa Tortuga" o livro que o Luís Amorim de Sousa escreveu com o «retrato de Alberto de Lacerda». E fui buscá-lo à estante e fiquei hesitante pois não o terei lido, pois, a lê-lo, tê-lo-ia sublinhado, que é uma forma de eu vincar em grafite o que se me vinca na alma.
E tudo isto porque no penúltimo exemplar do JL vem um excerto de diário daquele que foi «poeta, pintor, professor, coleccionador, raro homem de cultura».
Interessam-me os diários, porque sublimam vidas que não vivemos e nos substituímos na vida alheia No dia 20 de Outubro de 1996, em Londres, ao fazer a arrumação da extensa bagagem que trouxera dos Estados Unidos, Lacerda trazia uma "pochade" da Sonia Delaunay.
Li isso e lembrei-me de quanto me interessei por ela, essa invulgar pintora ucraniana, quanto me empenhei por conhecer a sua pintura, a sua vida, de, por causa dela ter ido a Vila do Conde ver a "Vila Simultânea", ter procurado na Biblioteca local o que haveria mais sobre a sua pessoa, ter imaginado uma ficção que seria um ensaio onírico em torno da circularidade hipnótica da sua Arte. E estar tudo isso adiado, como malas por arrumar e eu sentado no chão, adivinhando-lhes o conteúdo e fantasiado o dia em que fossem obra.
O "diário" que o JL edita chama-se "Até ao Fim dos Meus Dias". Talvez assim eu consiga.