quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
Uma vida aumentada
Talvez pudesse dizer em nome da sensatez do que não tenho que não podia, ou do escrúpulo do que não fiz que não devia, mas trouxe-o porque o título Trabalhos de Paixões de Fernando Assis Pacheco se sobrepõe à obra deste, a magnífica narrativa galega Trabalhos e Paixões de Benito Prada, cujo parágrafo de arranque me fulminou. É um livro bonito, como são todos os da Tinta da China, escrito por Nuno Costa Santos que o quis apenas como «crónica biográfica, talvez por pudor. E comecei a lê-lo, minado de tosse e moído de cansaço, mas leio e gostava de ser capaz de o terminar esta noite, assim não me vença o sono ou a morrinha.
Não sei porque se escrevem biografias nem porque as leio, vivendo assim, sub-rogada, a vida alheia como se própria fosse.
Jornalista, escritor, o jornalismo foi a sua profissão dominante, mas viveu-a como escritor, o refinamento da frase, a estrutura do contar.
Parei na página setenta e seis. São dias difíceis em que um homem se não reconhece e procura-se em tudo quanto há, como nele, que aumentou a vida através do prazer de existir.