Na foto Graham Greene em Sintra, na Casa Cadaval, com a sua amiga Maria Newall [referi-a aqui quando escrevi sobre a ligação do escritor aos serviços secretos britânicos, a foto consta do livro que o Padre Leopold Durán lhe dedicou, como se pode ver aqui e no qual relata muitos dos seus passeios, incluindo por Portugal].
domingo, 4 de janeiro de 2015
O sonho, uma forma de vida
Leio [aqui] que está traduzido em castelhano, com o título possível Un Mundo Proprio o livro A World of My Own de Graham Greene. Diário de sonhos, há nele a fantasmagoria autobiográfica como em tantos momentos da sua obra, até nas enigmáticas dedicatória de alguns dos livros.
Pensei nisso quando escrevi sobre o seu The Comedians [aqui] texto que remete para uma outra reflexão sobre The End of the Affair [aqui]. Mas não sou capaz de o pensar a propósito desta obra, talvez pelo burlesco que a acentua, até pela vulgaridade que a desfeia. O seu sucesso deve-se por ventura ao desconchavo, que é receita fácil como se sabe hoje no mundo editorial, como a mixórdia de, onírico, urinar camarões e eles tornarem-se lagostas na sanita, paródia abjeccionista sem graça nem estilo. E talvez à circunstância de o seu autor ter decidido da sua publicação dias antes de morrer, na Suiça, solicitando-a a Yvonne Cloetta, aquela que foi, ambos casados, sua amante durante mais de trinta anos, entretanto falecida [ver aqui].Ou talvez a um qualquer motivo que a pequenez da minha capacidade de entender não alcança.
Biografia, sim, escreveu, mas fê-la terminar aos vinte e sete anos, «anos de falhanço que se seguiram à aceitação da minha primeira novela». Ronceiro, arrastei-me agora à estante onde dormita a totalidade da sua obra para conferir o facto e o que acabo de citar. Encontrei-o na tradução portuguesa feita para a Bertrand por Maria Ondina Braga, publicada em 1971. O livro, que no original de intitula A Sort of Life surge em português como Uma Forma de Vida. Escreveu-o tinha sessenta e seis anos, como eu terei em breve. E nele deixou, a continuar aquela frase, esta flagrância de lucidez: «O falhanço é também uma espécie de morte: a mobília vendida, as gavetas esvaziadas, o camião das mudanças à espera na rua, como um carro fúnebre, para nos levar rumo a um destino menos dispendioso».
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Na foto Graham Greene em Sintra, na Casa Cadaval, com a sua amiga Maria Newall [referi-a aqui quando escrevi sobre a ligação do escritor aos serviços secretos britânicos, a foto consta do livro que o Padre Leopold Durán lhe dedicou, como se pode ver aqui e no qual relata muitos dos seus passeios, incluindo por Portugal].
Na foto Graham Greene em Sintra, na Casa Cadaval, com a sua amiga Maria Newall [referi-a aqui quando escrevi sobre a ligação do escritor aos serviços secretos britânicos, a foto consta do livro que o Padre Leopold Durán lhe dedicou, como se pode ver aqui e no qual relata muitos dos seus passeios, incluindo por Portugal].
Sobre Maria Ondina Braga enquanto tradutora de Graham Greene, escrevi aqui.