sexta-feira, 15 de julho de 2005
As escadas da Lello
Coincidiu. Eu tinha lido o poema do João Miguel Fernandes Jorge, «As escadas da Lello», que vem no livrinho «Março, os remadores no Douro». E tudo me fazia sentido, por ser Março o mês da coincidência e por ter coincidido eu estar no Porto, por ter comprado o livro para oferecê-lo e coincidir não me ter sido possível que o recebessem. E lembrei-me dos versos «eu queria, de novo, o entrecruzar dos corpos à hora de almoço descendo as escadas da Lello». Só que a Lello é hoje uma miséria literária, um expositor de novidades fáceis. Fundou-a José Pinto de Sousa Lello, em 30 de Junho de 1894, com o espólio da Livraria Cruz Coutinho e da livraria de Ernesto Chardon. O prédio, estranho e ímpar foi construído, propositadamente para o efeito, como se para uma catedral de livros, em 13 de Janeiro de 1906, um projecto de Xavier Esteves. Todo o seu interior tem a ver com livros, das estantes à escada, a célebre escada da Lello. Desconsolado com a falta de prosélitos, dei comigo, sem sentido, «descendo as escadas, longe dos livros, longe das nuvens, longe de tudo». Coincidiu.