quinta-feira, 11 de agosto de 2005
À espera de vez
Tem-se uma filosofia no recolhimento de uma mansarda, uma religião na solidão de uma igreja, uma sensibilidade no recanto de um bosque. Nada disso, enquanto se espera que o semáforo nos abra caminho ou à espera de vez no balcão do snack-bar. Comprendi hoje porque estou confuso dos sentimentos, seco de sensações, vazio de ideias. Tudo que aprendi com a Natureza esqueci-o nas cidades com que os homens a arrasaram. Hoje refugio-me no interior do jardim em frente e venho aqui para que se perceba, enfim, o esgotamento da espécie. É este o triunfo do mundo moderno. Plantados em filas ao longo dos passeios aplaudem os transeuntes as carretas funerárias dos que a civilização liquidou. Outros, afogados em alcool ou narcotizados em desolação, aguardam, pacientes, a sua vez.