quinta-feira, 11 de agosto de 2005
Dai-lhes Senhor
O homem lia alto as legendas de um livro. Havia naquela voz o despropósito dos surdos que não se ouvem. Em frente a ele, o ridículo feito mulher, das roupas aquém da idade, aos gestos de um grotesco que envergonhava quem via. Ladeando-os, géneros vários daquelas muitas espécies que são a riqueza da nossa zoologia. Teimei em não ouvir, insisti em não ver, perseguido pela voz estridente, quase alcançado pela caricatura feminina. Eu tinha um livro para me proteger. Levo sempre um livro, como os que levam o de orações. Pai Nosso, supliquei. Ninguém me ouviu. Falava o homem agora da página 24, abanava ela então braceletes com pendurezas.