sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
A irrealização
Aproveitando um intervalo, fugido ao vento e às obrigações, li umas páginas de cartas de Camilo Pessanha. Numa delas escrita ao seu primo José Benedito de Almeida Pessanha deixa esta observação densa acerca da aspiração falsa que é a luta pela realização do prazer: «o prazer, não tendo realidade sua, era o aniquilamento do desejo, de forma que esta luta representaria ansiar a morte». Continuando acrescenta: «cada desejo constitui uma dívida da natureza para quem o sente: a morte é a cedência das dívidas antigas, para evitar que ela volte a contrair novas dívidas».
Um homem que assim pensa traz dentro de si a totalidade da sua biografia. Vivendo conforme o desejo, negando-se o prazer de o satisfazer, a sua vida é essa irrealização. Há quem chame a isso infelicidade. No fundo, é apenas o destino.