domingo, 14 de dezembro de 2008
Uma esmola
Vi há pouco e aqui tão perto o original de uma carta de Camilo Pessanha a Ana de Castro Osório. Uma carta de amor em Vossa Excelência, porque eram pesados os reposteiros que guardavam os sentimentos da indiscrição de as palavras os trairem.
Quis o acaso, o sucedido que finge sê-lo para que nele acreditemos, que esta manhã eu tivesse lido precisamente uma dessas cartas, agora ali, visível a sua caligrafia miúda, cuidada, para que, mais do que uma missiva, ela própria, no seu papel, na tinta que a inscreveu, em cada uma das palavras que dela constam, fossem uma lembrança de afeição.
Camilo Pessanha pede «para lisonjear profundamente toda a minha pobre sensibilidade dorida, um jornal, de vez em quando, em cujo endereço eu reconhecesse a letra de V. Ex.ª.». Uma esmola, diz, e como é duro ouvir esta palavra no vocabulário sentido de um amor pedinte.