sexta-feira, 30 de julho de 2010
A coçada batina e o seu lustro
Percebe-se que há hoje ainda um sector na sociedade portuguesa que tem no seu modo reticente de ser, na sua forma indirecta de se exprimir, na reserva dos sentimentos e na dissimulação das opiniões, os tiques do seminário frequentado e do seminário que abandonaram. São almas contidas em corpos fustigados. A masculinidade sobreviveu neles à amputação da libido, a humanidade resistiu à saturação da confissão auricular ouvida genuflexória até à náusea do horror.
São seres de impaciência recalcada. A danação dos pecadores é a sua forma de através das penitências alheias expiarem uma raiva que fingem ser piedade.
Notam-se pela liturgia, pelo esgar feito riso, pelas vestes talares, pelas profissões que permitem condenar.
«Tudo eu podia ser como seminarista, excepto o que não tivesse em conta o facto de o ser». Leio isto no estudo que Maria Almira Soares dedicou a Vergílio Ferreira, a quem a frase pertence. O estudo é sobre «O Excesso da Arte num Professor por Defeito».
«Quando se frequentava o seminário, era-se seminarista, fosse qual fosse o lugar e a circunstância», escreveu o autor da Manhã Submersa. Para a vida toda, Amen!.