sexta-feira, 26 de setembro de 2014
Mr. da Silva nos States...
Fui juntando a obra toda, nas primitivas edições e naquelas de que a Guimarães interrompeu a reedição e talvez em alguma delas esteja esta conferência, proferida no Círculo Literário Eça de Queiroz no dia 11 de Março de 1942.
Proferiu-a no estilo amável e cortês que era o seu modo público de ser e com ironia.
Viajara até à América a bordo do Clipper, adivinha-se que em missão oficial, ele que encontrara ganha-pão na Secção de Imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Do que viu deu conta nessa noite, mais, porém, do que sentiu.
Foi a América polifórmica e policroma que nos trouxe, a protestante e a católica, a dos afluentes e a dos miseráveis, a do emigrantes e a dos naturalizados. A América de todas as vitórias e heroicidades, mesmo as que surgiram de derrotas e deserções. A América a afirmar-se na cultura, a América ante a guerra.
Na América em que era, afinal, «um anónimo estrangeiro», Joaquim Belford Correia da Silva, Paço d'Arcos porque neto do primeiro Conde de Paço d'Arcos, transformou-se no "Mr. da Silva nos Estados-Unidos" porque para os yankees ser português era uma espécie de ser africano.
Encontrei o escrito esta tarde. Trouxe-o comigo. Levara quarenta e cinco minutos a ser proferida, a palestra, menos de meia-hora foi o tempo de a ler, com voracidade e luxo. E o gozo íntimo de poder vir aqui e eriçar-me num "voltei".
Há ali o desenho psíquico de um País que não tem Nação mas que tem Pátria, em que o individualismo, a produção em série, o pragmatismo e a especialização são a força e a sua fraqueza.
Ainda hoje tudo é actual e, no entanto, ninguém editará e pouquíssimos lerão. Tive o ensejo. A tarde termina. Todo esse tempo passou. Ficou o sabor na memória gustativa.